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FATOS QUE PRECEDERAM O CRIME.

  • Dia 14 de julho de 1958.  Aída sai, à tardinha, da Rua Marquês de São Vicente, nº 11, Gávea, onde morava, e vai para o curso de Datilografia, na Escola Remington da Rua Miguel Lemos, nº 44, em Copacabana.  O curso é de 18 às 19h.

  • Aída sai da Escola Remington às 19 horas, junto com a colega de curso Ione Gomes  Arruda.

  • Na rua, Aída é abordada por rapazes.  Um deles, Ronaldo Guilherme de Sousa Castro,  para entabular conversa, joga um molho de chaves no chão e pergunta a Aída se as chaves são dela.  Aída diz que não e segue andando, não dando maior atenção.

  • Ronaldo toma de Aída o estojo de óculos e a bolsa.

  • Aída pede a devolução dos seus pertences.  Na bolsa estava o dinheiro para voltar para casa.

  • A cilada estava armada!  Com os pertences de Aída em mão, Ronaldo vai andando, primeiro, até ao edifício Ouro Negro, na Av. Atlântica, nº 3318, onde morava um amigo, que estava ausente. 

  • Ronaldo continua em busca de um lugar.  Encontra-se com Manuel Antônio da Silva, que entra em contato com o menor Cássio Murilo, morador do edifício Rio Nobre, Av. Atlântica, nº 3388. 

  • Durante todo este tempo, Aída vê-se obrigada a ir atrás de Ronaldo, implorando a ele que devolva os óculos e a bolsa.

  • Em frente ao edifício Rio Nobre, Aída é agarrada e levada à força para dentro do elevador.

(Do livro "Aída Curi, Ouro Puro em Mina de Trevas", escrito pelo irmão de Aída, Monsenhor Maurício Curi.)

 

 

Segundo dados colhidos nos Autos do Processo, os fatos que culminaram com a morte de Aída se sucederam da seguinte maneira: 

Terminada a aula do Curso de Datilografia na Escola Remington da rua Miguel Lemos, 44,  em Copacabana, Aída sai em companhia de uma colega de curso, Ione Arruda Gomes. Ambas aí estudavam no mesmo horário, das 18,00 às 19.00 horas. Dirigem-se, como de outras vezes,  ao ponto do ônibus, quando Aída é abordada por rapazes que costumavam se reunir próximo à rua Miguel Lemos. Isto aconteceu por volta das sete e meia da noite. Aída contava na época l8 anos e a colega 36; quanto aos rapazes, o mais jovem tinha l6 anos e os outros entre l8 e 22, sendo que o porteiro do edifício do crime 27 anos.

A CILADA

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Ione Arruda Gomes

 

 

Atraída inicialmente por per­guntas sobre um molho de chaves jogado ao chão por um deles, Aída, sempre correta e inocente em seus pensamentos, não desconfiou das segundas intenções dos que dela se acercavam. Um deles, para insinuar­-se junto a Aída e entabolar conversa,  usou do estratagema de deixar cair um chaveiro. "Um dos companheiros do declarante lembrou-lhe a brincadeira da chave". Perguntando a Aída se lhe pertencia, "dizendo que ela era muito bonita", recebeu dela uma resposta seca e desconcer­tante: "que não queria conversa" (fls. 84).

O CHAVEIRO

 

 

 

 

 

 

 

 

Vendo-se  desencorajado e frustrado em seu primeiro ensaio de abordagem e preterido por Aída, o rapaz decidiu empregar outro expediente. O Processo é sobejamente claro no que diz respeito ao ato preciso: "O rapaz apossou­-se da caixa de óculos de Aída"; "pegou rapidamente a caixa de óculos que Aída tinha em uma das mãos"; "tomou de Aída a caixa de óculos". (fls. 45, 84 e 185).

Aída pediu ao rapaz que lhe devolvesse esta caixa, insistentemente, no que não foi atendida; que o rapaz dizia: "Não, esses óculos vão ficar comigo e você também vai"; que Aída dizia "que precisava dos óculos para voltar para casa" (fls.448). E à sua colega dizia "que só iria embora com os óculos".  (fls. 84 e 84v).  Esta mesma colega  relata que Aída disse a um dos rapazes que,  por sinal, se achava matriculado na mesma escola da Rua Miguel Lemos:  "você tem um amigo ladrão; me roubou os óculos" (fls. 84v). Nota-se, pelo tom de voz, que Aída  parece estar pedindo  auxílio  a um conhecido seu. Ignorava, porém, que este  último seria o mais interessado em arrumar o local dos seus últimos momentos... 

Às insistên­cias para que ele lhe devolvesse a caixa de óculos, o rapaz respondeu que "não a entregaria a menos que lhe desse Aída um beijo".  A determinação  e atitude de Aída são claras.  Segundo um dos presentes,  "Aída não deu nem quis dar o beijo pedido" (fls. 516).

Em vão procuraria ela reaver seus óculos. Não se tratava de uma simples e inocente brincadeira: se lhe fora arrebatada a caixa de óculos e lhe era recusada a devolução, o motivo é óbvio: "era para que ela não se fosse logo embora". Arrebatando-lhe a caixa de óculos, o rapaz tinha em mira forçá-la a ficar com ele. Tanto é isto verdade que a referida caixa não é devolvida; voltaria à baila novamente quando estavam todos no alto do prédio.

Além dos óculos, foi-lhe tirada igualmente uma aliança de metal amarelo. O declarante afirma  que "havia apanhado da bolsa dela" (fls. 21). Perguntada  em seguida se era casada ou noiva,  deu aos rapazes uma resposta evasiva:  "que era noiva de um moço pobre" (fls. 21). Não seria esta resposta uma referência a uma escolha sua, bem diferente, a opção espiritual com que sempre havia sonhado, a sua consagração  a Deus na vida religiosa? E se não fosse exatamente isto, ao menos estaria se referindo, com esta expressão,  ao próprio Cristo com quem , de certa forma, já estava comprometida. 

Observe-se que os óculos, assim como a tal aliança, não serão devolvidos a Aída  nem antes nem depois da subida:  permanecem em poder dos  agressores  (fls. 16, 370 e 442).

O estojo com os óculos estaria nas mãos de um dos agressores no momento mais acirrado da luta lá no apartamento. "Entregou ao declarante um estojo de couro, com os óculos…dizendo : olha o que eu tomei dela" (fls. 16 e 45).

Ainda no mesmo momento o que havia tirado dela a aliança de metal amarelo entregou-a ao colega: "que tirou de um  dedo de sua mão, dizendo pertencer à moça" (fls. 16).

Os óculos com os vidros  despedaçados dentro do estojo estavam na bolsa colocada ao lado da cabeça  do cadáver. Dentro da bolsa  foi igualmente encontrada a aliança.

"Dentro da bolsa foram encontrados os óculos de Aída, os mesmos que haviam sido tomados dela por Ronaldo Guilherme, que lhe prometia devolvê-los, caso ela concordasse em acompanhá-lo ao edifício.  Os óculos, com a queda, ficaram esmigalhados dentro da bolsa de Aída Curi." 

(Trecho de matéria da revista "O Cruzeiro", em 27 de setembro de 1958.)

OS ÓCULOS E A ALIANÇA

 

 

Mas a história da coação não pára aí. Além da caixa de óculos, foi-lhe tirada também a bolsa (fls. 405 v). E Aída pedia ao rapaz "que lhe devolvesse os óculos e carteira", "pedia a sua boIsa". Apoderando-se tam­bém da bolsa, o rapaz apelava para um recurso extraordinário, vendo baldados seus esforços anterio­res. Ali dentro estavam, além dos pertences íntimos da vítima, o dinheiro (fls. 7), sem o qual não poderia voltar para casa. Forçavam-na assim a ficar com eles, uma vez que se mostrara arisca e desconfiada, não corres­pondendo quando o rapaz, passando por ela, "falou qualquer coisa "; e após ser seguida nem lhe dera atenção ao haver aquele atirado ao chão o chaveiro, respondendo-lhe secamente "que não queria con­versa".

A BOLSA

 

 

 

As manchas  de substância vermelho-escura assinaladas  no livro  que Aída  tinha  consigo são  de sangue humano, referem  os peritos.  A afirmação é  evidentemente baseada em prova científica:  "segundo o positivou a reação de soro-albumino  precipitação,  segundo Uhlenhuth".

As tais  manchas são apontadas na bolsa, no lenço  e ... no livro. Nesta  publicação, "Corografia  do Brasil",  do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, viam-se diversas manchas de sangue  nas capas, nas páginas números 128 e 129, bem como no borda  longitudinal (fls. 213).

Não consta dos depoimentos  que este livro também tenha sido  arrebatado  das mãos de Aída, no entanto uma das testemunhas do fato, por mim entrevistada,  fez referência  a este objeto,  dizendo que também o livro fora parar nas mãos de um dos réus.

Assim sendo, Aída  viu-se espoliada de tudo o que tinha consigo naquela noite. E estas manchas poderiam ter sido causadas durante a agressão no alto do prédio. Pode-se facilmente deduzir  que  o livro, assim como a bolsa, não podiam ficar esquecidos no local da agressão,  no alto do prédio, por quem estava interessado em fazer crer o  suicídio...

AS MANCHAS DE SANGUE NO LIVRO

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SUTIÃ RASGADO DE AÍDA

Ainda segundo os Autos do Processo, neste preciso momento, e quando Aída, indo em busca dos seus pertences,  óculos e bolsa, já se encontrava bem  próximo ao edifício Rio Nobre (fls. 84 v, 405v e 406), ou, mais precisamente, em frente ao edifício do crime, segundo declaração de fls. 12 v.,  afasta-se a colega,  que depois seria testemunha no Processo. Embora sendo somente testemunha,  foi ouvida em Cartório da Delegacia Especial de Polícia da Divisão de Polícia Técnica, acompanhada de Advogado, sendo este filho de um Delegado. Falou-se que o Diretor desta Delegacia Especial era amigo do  pai do advogado.

Dissera a colega para os rapazes que deixassem Aída às 8 horas no ponto do ônibus (fls. 19). No entanto, sabia ela "que Aída dizia sempre que tinha ordens de sua mãe para chegar no máximo em casa às 20,00 horas"  (declaração da mesma colega fls 449).  Interpelada sobre sua conduta, respondeu que não sabia se Aída ficou " forçada ou porque quis" (fls. 447v). Entretanto, Aída lhe havia dito  "que precisava dos óculos para o dia seguinte de manhã" (fls. 84) e "que só iria com os óculos" (fls. 84v).  Já esta frase deveria  fazer a colega compreender que não houvera a anuência de Aída. "Quando a declarante se despediu, "X" ainda estava de posse da caixa de óculos" (fls. 84v). O Mal campeava naquela sinistra noite de 14 de julho !  Diga-se de passagem que esta colega havia conhecido Aída três ou quatro meses antes (fls. 31v) e que no dia seguinte após o crime,  na terça-feira, segundo informações por nós obtidas, já estava de novo frequentando o Curso (!).

 Aída , agora sozinha, tenta por todos os meios recuperar os objetos dela tomados. Em sua ânsia de retomá-los , e estando já às portas do prédio do crime, residência de um dos culpados, não desconfiou um segundo sequer das reais intenções dos rapazes, intenções que estavam bem longe de tudo o que ela poderia imaginar…Não se fale em “ingenuidade”, mas desconhecimento completo do grau da falsidade e da perversidade dos jovens já afeitos a este gênero de violência sexual. De fato, a « curra » já estava em andamento.

FICOU FORÇADA OU PORQUE QUIS?

 

 

Enquanto Aída procurava reaver os seus objetos, um dos rapazes do grupo se ausentava a fim de providenciar um lugar para onde pudessem levá-la, sem que disto ela nem por sombra se apercebesse. Pela leitura atenta dos Autos, podemos afirmar, com segurança, que, em momento algum, Aída sus­peitou das reais intenções dos rapazes. Cuidaram sempre estes de mantê-la afastada todas as vezes que confabulavam: "A moça ficou um pouco afastada"; "deixando Aída um pouco afastada"; "esta se conser­vou distante, não tendo ouvido a conversa". (fls. 406v). 

O que jogara as chaves perguntara ao colega "se conhecia o apartamento para levar a moça", indo este ao encontro de um amigo que "utilizava o terraço do prédio para encontro com moças", o qual "sempre falava que levava mulheres ao terraço do edifício, e oferecia aos amigos".  O lugar escolhido foi, portanto, o alto do edifício do crime, palco habitual de comportamentos devassos. Um dos ra­pazes obteve do porteiro as chaves do apto. 1201 que dá para a cobertura do prédio. O porteiro "tinha conhecimento dos encontros que se realizavam no terraço do Edifí­cio Rio Nobre".

Mesmo mostrando decisão e  clareza  nas atitudes, tentava com bons modos  reaver seus objetos. Acreditava que seria capaz de chegar ao seu objetivo sem fazer escândalo na rua, ou ofender  os rapazes com maneiras rudes ou palavras ásperas.  Não podia supor  que  jovens de boa aparência seriam capazes de tão alta traição e supina  violência.

A PROCURA DO LOCAL

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Edifício Rio Nobre (o mais alto).

A luta que se seguiu no apartamento ficou fartamente provada pelos peritos criminais. Pelo exame das vestes rasgadas, dos ferimentos no corpo e do lencinho manchado de sangue encontrado dentro de sua bolsa, concluíram eles que houvera agressão violenta para o domínio da vítima, não logrando, porém,  os culpados este objetivo dada a sua resistência heroica  e viril.

A luta foi confirmada, com abundância de deta­lhes, pelos depoimentos dos próprios réus no decorrer do Processo. Evidentemente não revelaram toda a verdade.

Confessaram ao menos o que lhes era  de todo impossível negar. Mas  isto já era o suficiente para termos  uma ideia da insanidade dos atos praticados pelos agressores.  A meiga Aída  talvez até o último momento esperava que eles se apiedassem dela e a deixassem ir embora.  Pedia, chorava, com certeza chamava pela mãe, soluçava, implorava, mas com o passar do tempo, tendo os perversos instintos desencadeados, e  o brio humano ferido, os criminosos redobravam as atrocidades.

Um dos acusados depôs em Juízo que "a mesma se apresentava com o rosto avermelhado por causa dos tapas recebidos, e com um pedaço do vestido rasgado; que explica não saber onde o vestido de Aída estava rasgado porque apenas ouviu o ruído da fazenda que se dilacerava, quando o outro puxou as vestes (fls. 444v).  O que havia puxado o vestido declara "que quando puxou o vestido da moça já o fez com raiva dada a série de situações  dificultosas surgidas" (fls. 51v).

Um dos presentes à luta declara "que um dos culpados depois de agarrar a moça passou a  agredi-la, e que a agressão  consistiu em dar  na moça algumas bofetadas e tentar levantar o vestido da mesma,  e que ela repelia... (fls. 442). E  continua: "Que Aída chorou na vista do depoente quando "X"  bateu nela (...) demonstrando ao depoente que estava ofendida e machucada" (fls. 445v).

Foi revelado por um dos participantes da luta que "X"  "procurava abraçar  a moça e essa o repelia, tendo, a certa altura, ouvido a moça  dizer que era virgem" (fls. 45). Declara  este ainda que "um dos culpados insistia em possuir  sexualmente a moça e esta permanecia na negativa, alegando ser virgem (...) tendo sacudido a moça com violência (...) que a moça frequentemente  chorava" (fls. 16).

Em acusações mútuas, os culpados deixaram bem claro que Aída se debateu energicamente, enquanto lhe sobraram forças. 

"Concluem os peritos que no terraço do Edifício Rio Nobre, ocorreu um crime de origem sexual. (...) Posteriormente à prática do crime referido, e possivelmente para ocultar, ou assegurar a impunidade daquele evento criminoso, o agente (ou agentes) lan­çou sua vítima do terraço, localizado acima do déci­mo segundo pavimento, à calçada fronteiriça do edi­fício."

Seu corpo, ainda consoante conclusão dos peritos, antes de ser jogado, apresentava "estado de exaustão". O Instituto de Criminalística calculou "a duração dos acontecimentos desenrolados no terraço em cerca de trinta minutos". Eram exatamente 20,56 horas, quando seu corpo tocou o solo, segundo mostrou seu relógio de pulso parado neste preciso horário, em consequência da queda.

Antes de concluir este  capítulo, vale registrar aqui a conclusão a que chegaram os peritos Seraphim da Silva Pimentel, Murilo  Vieira Sampaio e Joaquim da Silva  Gusmão  no "LAUDO DE EXAME DE ESTUDO  RECONSTITUTIVO" (fls. 338).

  1. Aída Curi, atraída ao terraço do Edifício "Rio Nobre", depois da luta, ou contensão enérgica, sofreu atentado violento ao pudor.

  2. Consumado tal atentado, foi a vítima, em estado de exaustão, lançada do mesmo terraço, rente ao plano da fachada do prédio,  indo cair  sobre o passeio à frente do edifício, sem que possa ficar excluída a possibilidade da interferência de mais de um implicado neste lançamento (o grifo é do Autor).

  3. Pelo desenvolvimento da cena de violência, e atendendo ao espaço de tempo decorrido entre a subida da vítima ao terraço e seu lançamento ao solo (trinta minutos), e ainda em face dos dados cronométricos obtidos, todos os implicados, ou estariam presentes ou um ou dois deles ter-se-iam retirado momentos antes do mesmo lançamento; entretanto, as violências praticadas contra  a vítima foram de tal ordem e vulto,  que não  é possível admitir  que tenham sido levadas  a cabo no pequeno lapso de tempo  decorrido entre tal retirada e o lançamento do corpo, o que leva à conclusão definitiva  de que todos os implicados  deveriam se encontrar no terraço – fosse como participantes, fosse como meros assistentes-, quando ditas violências foram praticadas". (o grifo é do Autor)

  4. Aí estão os elementos do Processo que julgo indispensáveis para se ter uma ideia da morte heroica de Aída.

Dias após o crime, o laudo médico daria à nossa família, em meio a descrições pungentes, o único veredicto que nos consolaria: Aída morreu virgem! Ninguém havia tocado em seu corpo. Então nos lem­bramos do que ela havia prometido à mamãe, três dias antes de morrer: "Eu gritaria... eu luta­ria até morrer... mas ninguém há de me encostar um só dedo..."
 

A AGRESSÃO E A RESISTÊNCIA

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Perito examina a saia de Aída rasgada e suja de sangue.

Poucos instantes depois de seu corpo haver tocado o solo, são vistos ao lado da vítima a bolsa, o caderno e o livro que lhe pertenciam. Dentro da bolsa foram encontrados o lencinho manchado de sangue e os óculos despedaçados. O lenço fora usado para limpar o sangue  que brotou do lábio superior em  consequência  de uma bofetada. O lencinho indica ter sido usado estando  dobrado, conclusão  a que chegaram os peritos  pelo processo da justaposição  das manchas.  

O lencinho dobrado e  abundantemente manchado de sangue dentro da bolsa era uma das provas da resistência de Aída, contra os interessados em fazer crer que todos os indícios de agressão encontrados em seu corpo não eram senão consequência da queda... Estavam, no entanto ali, a caracterizar  igualmente a luta dos rapazes para a imobilização da vítima, os longos e vastos rasgões da  saia  e  da anágua, bem como o violento arrancar do porta-seios, as unhadas profundas no busto (lado direito)  e a equimose no lábio superior, produzida por esbofeteamento (fls. 353). Mesmo na ausência de provas como estas, a violência ficou sobejamente provada durante a reconstituição do crime : a bofetada, o rasgamento das vestes…

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Blusa de Aída com sangue.

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Lenço de Aída cheio de sangue, encontrado dentro da sua bolsa.

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O relógio parado de Aída mostra, de acordo com os peritos,
o exato momento em que o corpo de Aída atingiu o solo: 20h56.  Esta prova foi crucial para a reconstituição do crime e a cronometragem dos fatos que o antecederam.  O laudo do exame do relógio consta do Processo, nas folhas 215 e 217.  TRECHO do Parecer do Curador Cordeiro Guerra sobre a "cronometragem dos fatos", constante do Parecer sobre a Impronúncia.

Foto da revista "O Cruzeiro", de 23 de maio de 1959.
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As solas das sandálias de Aída, de acordo com os peritos, mostram claramente sinais de terem raspado pela parede externa do edifício, o que é mais uma prova de ter ela sido jogada rente ao muro de 1 metro e 6, e não pulado.

Foto da revista "O Cruzeiro", de 23 de maio de 1959.
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O exame microscópico da parede externa do edifício, logo abaixo do terraço, mostra partículas do couro da sandália de Aída.

Foto da revista "O Cruzeiro", de 23 de maio de 1959.
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O microscópio revelou que as manchas escuras na parede da fachada do edifício Rio Nobre foram produzidas pelas sandálias que Aída Curi calçava,
no momento da queda.

Foto da revista "O Cruzeiro", de 27 de setembro de 1958.
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O parapeito do terraço onde o corpo de Aída foi colocado.

Foto da revista "O Cruzeiro", de 23 de maio de 1959.
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LEVANTAMENTO MÉTRICO.  O perito Seraphim da Silva Pimentel faz o "levantamento métrico" no local da calçada onde Aída Curi caiu.  Foi medida a distância entre o edifício e o local onde Aída Curi caiu e a distância entre o local da queda e o meio-fio.

(Foto do jornal "DIÁRIO DA NOITE" de 26 de julho de 1958.) 

 

Quando do minucioso exame do local do crime, os peritos constataram, na parede externa do edifício, entre o parapeito do terraço e a janela do 12º andar, a existência de uma mancha escura, em forma de faixa, com 98 centímetros de comprimento e 5 a 8 centímetros de largura.  Tal marca estendia-se para baixo até atingir o alto da janela do 12º pavimento.  O material dessa mancha foi recolhido pelo próprio diretor do Instituto de Criminalística, Engenheiro Eugênio Lapagesse: com o corpo meio projetado pela janela do 12º andar, o perito raspou, com um tubo oco, a área da marca escura.  O pó obtido por esse meio foi levado a exame microscópico.  Verificaram os peritos que o material colhido era de natureza fibrosa, ora de entremeio a grânulos de reboco, ora a eles fortemente aderido.  Pelo confronto com material idêntico obtido em ensaios de laboratório, os peritos constataram que tal material era constituído de partículas ínfimas de couro, que se haviam colado na parece exterior do edifício em consequência de violento atrito.  Examinando as sandálias de Aída, verificaram os peritos que no bordo do pé esquerdo havia sinais de forte raspão em superfície áspera.  É que Aída Curi, ao cair, raspou com sandália a parede do edifício.

(Matéria publicada na revista “O Cruzeiro”, pág. 90, em 17 de setembro de 1958.  Texto do jornalista Arlindo Silva.)

CAIU RASPANDO A PAREDE.

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TRECHO DA MATÉRIA DO JORNALISTA ARLINDO SILVA, NA REVISTA "O CRUZEIRO" DE 27 DE SETEMBRO DE 1958, EM QUE DESCREVE O TRABALHO MINUCIOSO, MICROSCÓPICO E MATEMÁTICO DOS PERITOS CRIMINAIS.

Jornalista Arlindo Silva

 

O CONTEXTO SOCIAL DA ÉPOCA.

 

 

 

 

Vale lembrar que, nos anos 50, filmes de violência e rebeldia eram exibidos no Brasil e atingiam a psicologia malformada de alguns adolescentes do Rio, exemplos "O Selvagem", com Marlon Brando, e «Juventude Transviada», com James Dean.

A calça jeans é adotada pela juventude.  O "topete" está na moda.  Para o sexo feminino, as "saias godê".

 

Os Estados Unidos exportam o "rock-and-roll", e repercutem mundialmente com os cantores Bill Haley, Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, entre outros.

No Brasil, surge a Bossa Nova. 

 

Em 29 de junho de 1958, na Copa do Mundo disputada na Suécia, o Brasil conquista a vitória, ao vencer a Suécia por 5 a 2 na final.  Pela primeira vez, o Brasil se torna "campeão do mundo"!  

 

O Rio de Janeiro vivia momentos inquietantes com o fenômeno da “juventude transviada”, protagonista também das famosas "curras".

 

Esperava-se da Polícia reação pronta e mais severa. As famílias da zona sul estavam praticamente desamparadas. Duas ou três semanas antes da morte de Aída,  precisamente no dia 27 de junho, um mendigo tinha morrido em Copacabana…incendiado por mãos criminosas de um jovem do bairro, correndo rumores de que o culpado fazia parte do mesmo grupo que dias depois iria atacar Aída (fls. 130 v).

 

Notemos ainda de passagem que  a "Cidade Maravilhosa" ainda era a Capital do País , o assim chamado "Distrito Federal".  A construção da nova capital Brasília (urgia inaugurá-la em 1960!) parecia absorver toda a atenção do Governo...

Para tornar mais dramático ainda o quadro social, a droga já se instalara em Copacabana. Não seria uma suposição infundada que alguns dos implicados neste crime já estivessem sendo aliciados por este vício. Falou-se na época que teria havido entorpecente no caso e inclusive que «bocas de fumo» existiam  bem próximo ao local do crime,  uma delas sendo frequentada  por  implicados na morte de Aída. 

É quase impossível conhecer toda a profundidade da degenerescência moral do grupo que tentou arrebatar a honra e a inocência de Aída. Ao que tudo indica, era o submundo da libertinagem!

No Rio de Janeiro, ainda estava em uso, como meios de transporte, o lotação (pequeno ônibus) e o bonde elétrico.

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Lotação

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Bonde Elétrico

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Uma cena comum no Rio de Janeiro, no ano de 1958.

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