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sonhos e pensamentos
sobre aída curi

Por sua mãe, Jamila Jacob Curi.

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Aída Curi

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Jamila Jacob Curi

11 de outubro de 1958.

O primeiro sonho que tive com minha filhinha foi na noite em que recebi a visita da Professora de Português, Dona Lúcia  Cerne Corona, juntamente com seu esposo. Deles recebi como presente uma imagem de Nossa Senhora de Fátima para me consolar e me dar forças  para resistir  ao tremendo golpe que recebi. Nesta mesma noite sonhei com Aída. Ela estava viva perto de mim, e eu bem contente. Eu estava dizendo às pessoas conhecidas: minha filhinha  voltou. Ela pertinho de sua mãezinha para me consolar. No mesmo instante ela se tornava uma criança de 8 anos e estava tão risonha, jogando bola e eu a gritar: Aída, vamos embora. No mesmo instante, ela se tornou moça e eu vinha tão contente por Deus ter devolvido a minha filha. Mas isso foi apenas um sonho. Se fosse realidade que bom seria!

***

12 de outubro de 1958.

Isto foi em pensamento. Que eu tinha ido ao cemitério, e lá estavam várias pessoas. E eu lhes disse: Esperem que ela virá. E o povo queria chegar mais perto do túmulo.  Eu  lhes dizia que ficassem lá onde estavam, que ela viria. A tampa devagar foi-se abrindo, e ela veio andando muito séria, sem olhar para ninguém. Eu fui para junto dela até ao portão. Chamei um táxi e fomos para casa. Chegando lá, deitou-se na cama pois estava muito cansada. Eu fui então à janela, pois o povo em massa queria falar com Aída, e levantei as mãos como em prece e disse-lhes: Pelo amor de Deus, não façam barulho, pois amanhã todos os que a procuram serão atendidos. Isto foi como se eu estivesse vendo mesmo, e porque eu queria muito que ela voltasse.

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15 de outubro de 1958.

Sonhei que entrei em um lotação à procura de minha filhinha.  Perguntei ao chofer se viu uma moça passar por ali.  Ele abaixou a cabeça, apontando para Aída estendida no chão e disse-me que se ela não se resolvesse a ceder aos desejos dos malvados teria que morrer ali de fome.  Perto dela vi um homem escuro e dois claros. Olhei para minha filha, e ela virou os olhos para mim, mas não podia dizer nada, muito triste. Eu queria fazer alguma coisa, mas também não podia.  Fiquei ali sem poder dizer nada. E tudo acabou.

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Mês de junho 1959.

Fui para dormir. Fechei os olhos, quando vi distintamente Aída vestida de azul celeste e os cabelos cor de fogo. Ela estava satisfeita, contente. Logo abri os olhos e nada mais vi. Tudo foi como se fosse num conto de fadas.

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Ainda no mês de junho de 1959.

O que eu queria dizer pela televisão, mas não me deram esta chance, era o seguinte:  dizer que tudo acabou para mim, e para Aída também tudo, tudo terminou. Quem a perdeu para todo o sempre fui eu,  sua mãezinha, a quem ela queria tanto. Queria falar ao público que agora para Aída  eu não poderia pedir coisa alguma. Queria sim pedir às mães mineiras (pois Aída nasceu em Minas, na Avenida Santos Dumont, 436, em Belo Horizonte) e às mães de todo o Brasil que cuidassem bem de suas filhinhas, pedissem ajuda e garantia  de vida  para suas filhinhas, proteção às autoridades, para que nunca mais suceda o bárbaro crime de que foi vítima minha filha. Cuidem bem de vossas filhas, pois o que tenho passado é uma grande e negra dor, Mães, vós sois felizes, tendes as vossas filhas perto, podeis dar-lhes conselhos, alertar contra o mal e a maldade humana...

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Dia 9 de novembro de 1960.

Minha filha Aída, sonhei contigo, hoje quarta-feira. Fui ao cemitério fazer-te uma visita. Chegando lá, já estavam guardando os caixões. Eu reclamei que queria fazer uma visita à minha filha Aída. A moça que tomava conta ficou penalizada. E mandou que eu fosse ver abrir o caixão. E ela , querida filhinha, luz dos meus olhos, logo olhou para mim, ria, e depois pôs-se a chorar, beijou as minhas mãos e disse: mãezinha, suas mãos estão geladas, e eu sorrindo disse-lhe: engano, filhinha, as tuas é que estão geladas. E tudo acabou, foi apenas um sonho.  Se fosse realidade, seria sublime. Seja feita a vontade de Deus!

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13 de agosto de 1962.

Meu filho Maurício deu-me a notícia da sua ida para Jerusalém onde, durante  4 anos continuará seus estudos. A princípio fiquei triste pois iria separar-me de meu filho, mas como ele estava contentíssimo, eu também fiquei. Nesta noite fechei os olhos, fiquei pensando tanto, triste, e vi o rostinho de minha filha Aída olhando para mim como quem diz:  não fique triste, mãezinha, estou a teu lado. Assim é a vida: ninguém é de ninguém. Se pudéssemos compreender bem isto, ninguém sofreria. Seja tudo a vontade de Deus!

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24 de maio de 1964.

Hoje, assistindo à televisão muito sozinha, comecei a chorar. Lembrei-me tanto de você, minha filha Aída ! Se você estivesse aqui pertinho da mãezinha, quantos abraços, quantos beijos eu te daria! Trocaríamos ideias: isto fica bem, isto não serve... De quantos planos para seu futuro falaríamos!  Como tudo seria tão lindo, tão belo, tu que eras uma flor maravilhosa, teu coraçãozinho tão puro e limpo, como um lírio branco sem mancha, porque tu eras pura, meu amor, luz dos  meus olhos! Se as saudades matassem, eu já estaria morta há muito tempo, mas Deus vai aliviando o nosso coração, de uma tal forma que nós mesmos não compreendemos. Que seja tudo por amor a Deus e a Maria Santíssima.

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27/8/69.

Ouvi o "Diário de um repórter". Era uma quarta-feira. A emoção foi grande. Queria chorar mas não desceu uma só lágrima. Obrigada, David Nasser, por  mais uma vez relembrar o caso de minha filha. David Nasser disse tudo, cansou, nada mais tem a dizer. Arriscou a sua própria vida. Que Deus  o abençoe, David Nasser!

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4/12/1969.

Era um dia chuvoso. A neta do senhorio veio entregar o recibo. Tocou a campainha.  Quando abri a porta, ela, com os seus olhos cheios de encantos, me olhou e disse: vovô mandou entregar o recibo. Pareceu-me  ver Aída. E não me contive, pus-me a chorar e depois tive que parar porque nem chorar mais posso. Senti um nó na garganta. Tive que tomar um pouco de água a fim de parar de chorar. Não posso ficar em casa,  pois lembro-me tanto da minha filha. Sinto muitas saudades porque ela era uma filha exemplar, não tinha  defeito.

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22/6/1972,  quinta feira,  às 2,20 horas.

Irmã Francisca do Educandário Gonçalves de Araújo, onde Aída esteve, passou perto da loja  do Roberto, entrou e  disse que  me viu e veio fazer-me uma visitinha. Irmã Francisca me fez  lembrar muito de Aída. Eu queria chorar em voz alta, gritar, mas me contive,  tendo que fingir  de forte. Irmã Francisca contou-me que uma aluna  estava doente com leucemia, e o médico não deu mais um dia de  vida. Irmã  Francisca disse que pediu a Aída que desse um jeito para que a mãe da menina que estava longe pudesse vir para estar perto da  sua filha. Era coisa impossível, pois ela morava muito longe e sem dinheiro não podia vir. De repente a mãe recebe um telegrama e, no dia seguinte, veio para estar perto da sua filha. Até hoje Irmã Francisca tem a certeza que foi uma graça que recebeu por intermédio de  Aída. Ela já recebeu várias graças de Aída. Tudo o que Irmã Francisca pede, recebe.

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24/6/1972, Sábado.

Quem sabe curar a saudade?! A saudade é amarga e negra, é dor e tristeza. Hoje, na loja,  tive muitas saudades de minha  filha.  Procuro me conter para não chorar, mas hoje  não aguentei. Chorei, chorei,  Por que os culpados escondem a verdade ?  Eles aguentam tanto remorso dentro de si ? 14 anos são já passados.  O porteiro está  sendo protegido. Digo a quem o protege: faça o porteiro se entregar, tire  este peso de sua consciência. Meu filho, Padre Mauricio, está preparando a terceira edição do livro de Aída, "a jovem Heroína  de Copacabana". Queríamos colocar neste livro uma infinidade de verdades, mas resolvemos quase  que só falar sobre a vida de  Aída. Tudo está entregue a Deus. Eu tenho certeza de uma coisa: o caso de minha filha Aída ainda vai ter muitas reviravoltas. Deus quer prestação   de contas, muito sérias.

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28/4/70.

Sonhei com Aída, minha filha, que estava tão feliz!  Abracei-a, beijei-a tanto, e chorando não  queria que ela percebesse que eu estava chorando para que ela não ficasse triste. Sonhar com a única  filha que eu tenho! Isto deixa uma grande saudade. Que pena, tudo foi  apenas um sonho. Meu Deus, fazei-me compreender, ajudai-me por favor, eu queria tanto Aída perto de mim!

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9 de dezembro de 1972.

Foi o dia em que telefonei para a Irmã Superiora do Educandário, perguntando em que dia iriam celebrar a festa no Educandário. Respondeu-me uma Irmã  novata que seria a festa no dia 10 de dezembro. Eu chorei muito no telefone e disse-lhe  que talvez não fosse, porque não teria coragem... Ela, a Irmã, me consolou dizendo:  Dona Jamila, a sua filha está no céu, não chore. Eu lhe disse muito  obrigada e desliguei o telefone. Daí  a alguns minutos o telefone toca.  Fui atender e era a Madre Superiora falando comigo: Dona  Jamila,  disse-me ela, eu poderia ter-lhe mandado um convite  especial para a senhora vir. Seria um grande prazer para nós. Eu respondi agradecendo e disse que talvez não fosse porque eu não ia aguentar, pois tantas recordações  me fazem sofrer. Chorei e parecia que os três que maltrataram minha filha haviam me dado uma surra pois meu  corpo estava doído. Cansada, não tive coragem para ir. Queria muito mas não fui. Passei o dia todo triste e ainda o Nelson, meu filho,  notou e disse-me: não sei o que a senhora tem hoje, parece muito cansada.

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15 de dezembro de 1972.

Sexta feira, dia  bonito de sol. Aída Curi, minha filha, completou 33 anos (idade de Cristo).

Neide Borges Curi, minha  nora, mandou celebrar missa por alma de Aída, por uma graça recebida.

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Dia 7 de janeiro de 1973.

Sonhei com Aída. Que todos os fiéis estavam na igreja Nossa Senhora do Paraíso, em São Paulo. De repente, Aída aparece toda vestida de branco perto do altar.  O povo assim que a viu se dirigia depressa para perto dela.  Eu gritei:  Esperem, não é assim, esperem um pouco! E assim acabou este lindo sonho. Meu amor, minha vida, que saudades!  Penso tanto em você. Por que os culpados não falam a verdade?

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26 de setembro de 1975.

Passei um domingo com meu filho Padre Maurício, em São Paulo. Saímos, foi no mês de setembro de 1975. Fomos visitar umas moças do Movimento dos Focolares. O Maurício disse –lhes:  eu gostaria que minha mãe  desse o perdão, assim como eu dei o meu de coração. Eu respondi: eu  darei um dia, quando sentir que devo dar. Neste dia viajei para o Rio. Em casa conversando com meu filho Waldir a esse respeito, ele  me perguntou: a senhora não dá o perdão?  Eu respondi: para dizer que dou e não sentir no coração, não vale a pena.  Fui abrir a loja do Roberto.  No ônibus pedi a Deus com muita fé que desse um toque no meu coração para perdoar. À tarde, eram 3 horas e 15 minutos, eu estava tomando  café, quando de repente senti um toque no meu coração. Eu queria  explicar melhor para que todos me compreendessem, quando estremeci e  falei : o perdão!  Dei então o perdão. Que  seja tudo por amor a Deus.  Sei que Deus está bem comigo. Pedi a Deus e Ele  me ouviu. O perdão de  todos os meus  filhos também.

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19 de agosto.

Fechei os olhos. Não estava dormindo não. Vi através dos  meus olhos os olhos de minha querida filhinha  Aída olhando para mim, com  doçura e ternura. Parecia  que ela  estava com  muita pena de mim. Virei os meus  olhos para o outro lado, o seu olhar sempre me acompanhando. Agora ela  me apareceu com a metade do seu rosto, e com ternura olhava  para mim. Logo a seguir  vi distintamente  a imagem de Jesus, isto é,  a metade do seu corpo com um olhar tão meigo, olhando para mim. Demorou um pouquinho para desaparecer. Isto foi tão lindo que não há palavras para decifrar a visão que eu tive. E em volta do rosto de Jesus uma  luz deslumbrante, nunca vista. Realmente, gostei tanto!  Muito obrigada, meu Deus, agradeço-lhe muito, muito mesmo.







Ela era a pérola mais preciosa de minha vida.

Ela era todo um encanto

Ela era todo um amor

Ela era linda

Ela era bela de corpo e de alma

Isto posso dizer e afirmar.

Eu me sinto tão só

Sem o seu amor,

Sinto falta do seu carinho,

E como sofro a sua ausência!

É bem negra a minha dor.

Todos os três foram culpados.

Ela a lhes pedir: deixem-me ir embora,

Sou virgem!

Mas eles batiam mais e diziam:

Você tem que ceder!

A luta foi feroz,

Mas a glória de que muitos falam...

Ela preferiu que jogassem o seu corpo do alto

A manchar o seu nome de menina moça.

Peço que todas as mães me compreendam:

A pérola mais linda que  possuía, eu perdi!

 

                                                                           JAMILA JACOB CURI

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