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DIÁRIO E CARTAS DE AÍDA.

(Do livro "Aída Curi, Ouro Puro em Mina de Trevas", escrito pelo irmão de Aída, Monsenhor Maurício Curi.)

APONTAMENTOS DE UM DIÁRIO.

Aída guardava, taquigrafados numa caderneta, apontamentos que fizera por ocasião de um Retiro Espiritual, pregado por Sua Eminência o Sr. Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, de 29 a 31 de maio de 1956. Ali anotava igualmente seus propósitos e atos espirituais. Sua professora de taquigrafia traduziu o que vai aqui transcrito:

"Quero fazer um sacrifício todos os dias.

Quero fazer minhas confissões, cada uma delas como se fora a última da minha vida.

Procurarei pensar todos os dias no Céu, na Morte e no Inferno.

Como estou contente! Que retiro maravilhoso! Fiz uma ótima confissão, pois o meu Pai me disse que eu havia feito uma boa confissão e que eu podia estar tranquila.

Havia muito tempo que eu estava pedindo a Jesus que me enviasse um confessor espiritual em quem eu tivesse toda confiança, e a Bondade infinita, Nosso Senhor, enviou-me o próprio Sr. Cardeal. Eu estava disposta a pedir-lhe que fosse o meu diretor espiritual e, antes que eu pedisse, ele mesmo se ofereceu para ser meu Pai espiritual, visto eu o ter chamado de Pai.

Muito obrigada, meu Deus, mil vezes obrigada! Ajudai o meu paizinho e a mim também.

Pude fazer uma comunhão bem fervorosa no dia em que terminou o retiro, que foi o dia do Corpo de Deus.

Estou muito contente parque Jesus está no meu coração e minha alma está pura.

Maria, ajudai-me a amar sempre a Jesus e ANTES MORRER DO QUE PECAR (destaque do autor). Dia 31-5-56

Dias do Retiro: 28-29-30

Dia em que me confessei: 30-5-56

Dia em que recebi a fita de Filha de Maria: 31-5-52.

Dia da Primeira Comunhão: 8-12-46

Dia em que comecei as nove primeiras sextas­-feiras do mês: 1-1-56. Acabei em setembro.

Dia em que comecei os primeiros sábados de Nossa Senhora: 2-1-56. Dia em que acabei: sete de maio.

Ofertas que fiz no mês do Coração de Jesus no ano de 1956.

DIA:

1) Não perderei tempo na aula e oficina.

2) Hoje só beberei água nas refeições.

9) Hoje farás nove vezes a Comunhão espiritual.

10) Deixarás de comer algum doce, hoje.

11) Hoje beberás água só no refeitório.

12) Ficarás a missa inteira de mãos postas e sem olhar para trás.

13) Quando bater o sino dirás baixinho: "Vou Jesus", ficando logo quieta no teu lugar.

15) Hoje farás nove vezes a Comunhão espiritual. (não fiz).

24) Ficarás de mãos postas durante toda a Santa Missa, sem olhar para trás.

27) Oferecerás a Comunhão de hoje pelos que sofrem. (não fiz).

29) Quando bater o sino direi baixinho: "Vou Jesus ", ficando logo quieta no meu lugar. (Não me lembrei).

30) Hoje farás nove vezes a Comunhão espiritual.

No dia 26 de novembro tive a felicidade de mais uma vez confessar-me e abrir meu coração a meu paizinho espiritual.

Fiz minha confissão, desde a última vez que ele esteve aqui, isto é, no retiro. Dei-lhe conta dos propósitos feitos no retiro. Meu diretor mandou que eu renovasse todos os propósitos, mas com uma modificação: em vez de pensar no céu e no inferno, pensar na morte.

Oferta que fiz a Nossa Senhora na novena da Imaculada Conceição (Ano de 1956)

- Fazer uma visita a Nosso Senhor pedindo a conversão dos pecadores.

No dia 18 de junho tive a imensa satisfação de mais uma vez abrir meu coração a meu paizinho espiritual. Fiquei muito contente.

Perguntas a fazer a meu paizinho quando ele vier:

- Como poderemos ser felizes no Céu se nossa mãe não está lá?

- Que eu queria amar muito a Jesus.

- Que faço minha Comunhão friamente e queria não fazê-la assim."

"De agora em diante eu serei o seu guia espiritual, minha filha, visto teres me chamado de Pai!"

DUAS CARTAS:

Numa carta que nos escreve quando estudáva­mos no Seminário de Jundiaí, Aída  se refere mais uma vez ao retiro pregado por Dom Jaime.

"3 de junho de 1956.

Meus queridos irmãos,

Aproveito a ótima oportunidade da ida da ma­mãe a São Paulo, para enviar-lhes esta carta.

Vocês devem estar estranhando tanto a demora de minha carta em resposta à que me mandaram. Mas só agora é que me é possível escrever-lhes, pois muitos motivos impediram-me de fazê-lo antes.

Um deles foi o nosso Santo Retiro pregado por D. Jaime de Barros Câmara. Digo Santo Retiro, por­que realmente o foi. Posso dizer-lhes, creio nunca ter feito um retiro melhor dentre os muitos que já fiz.

Não imaginam como fiquei alegre! S. Eminência ficou contentíssimo conosco porque todas fizemos um retiro muito fervoroso. Por admirável desígnio da Providência ficou encaixado entre a festa da Santís­sima Trindade e a festa do Corpo de Deus. No dia da festa, S. Eminência, em prêmio a nossa boa vontade e fervor durante o retiro, quis celebrar a Santa Missa aqui em nossa Capela. Ao entrar na Capela, as Can­toras entoaram o "Ecce Sacerdos". Durante a missa, o Sr. Cardeal dirigiu-nos um eloquente sermão a res­peito da Eucaristia.

Depois da missa mostrou-nos diversos quadros da vida de Cristo, conforme nos havia prometido no retiro. Oferecemos-lhe um bonito chapéu juntamente com um santinho de pergaminho e uma quantia para a celebração de uma missa em sufrágio da alma de sua falecida mãe.

Mas não lhes relatei o motivo da minha alegria.

Primeiramente, porque fiz um ótimo retiro, con­forme eu disse acima. Fiz minha confissão geral no último dia, a qual me proporcionou grande alegria e tranquilidade de alma.

Havia muito tempo que eu vinha pedindo a Jesus que me desse um Pai Espiritual em quem eu ti­vesse confiança e que me pudesse guiar na vida espi­ritual. Mas, apesar dos meus rogos, Deus parecia dormir como na barca, na tempestade, segundo con­ta o Evangelho. Contudo, neste retiro mostrou Jesus que "Ele dorme, mas escuta tão bem como se estives­se acordado". Enviou, então, a pessoa do Sr. Cardeal, a quem agora passo a chamar de "meu Pai".

Estava disposta a pedir-lhe que fosse meu Dire­tor Espiritual, mas Deus foi tão bom que, mesmo antes de pedir, Sua Eminência disse-me:

- "De agora em diante eu serei o seu guia espi­ritual, minha filha, visto teres me chamado de Pai!".

 

Como fiquei contente! Como Deus é bom! Assim é que agora tenho um bom paizinho em quem deposito toda a minha confiança!

Rezem muito para que eu progrida no caminho da virtude e rezem também pelo meu querido Pai.

Mando pela mamãe mais uns selos que me deu Irmã Vigária. Rezem por ela. Quero também pedir­-lhes um santinho de S. Francisco de Assis. Aliás, eu queria que vocês mandassem uma porção de santi­nhos para mim, tá? Obrigada.

Eu ia lhes enviar aquela revista que comprei nas férias quando fomos à Cidade, Roberto e eu. Mas, infelizmente, desapareceu, e não sei como.

Mano, você cometeu tantos erros na sua carta em inglês! Vou corrigir alguns. Por exemplo: Graças a Deus é "Thank God" e não "Grace to God". Outra: nunca se diz "very thank". É o maior erro que se pode cometer. É assim: "thank you very much". Não fique sentido, que eu faço isso para o seu bem. Pode enviar-me outra carta em inglês.

Acho que não tenho mais nada para dizer-lhes. Envio, pois, o meu grande abraço e as minhas imen­sas saudades.

Rezem par sua irmã que os ama muito.

Aída."

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Dom Jaime de Barros Câmara.

Sete dias antes da sua morte, Aída  escreveu-me a sua última carta. Eu me encontrava no Seminário de Jundiaí, no segundo ano colegial.

"Rio, 6-7-58

Querido irmão Maurício,

Louvado seja Deus!

Há muito queria escrever-te, mas a escassez de tempo é sempre motivo que me impede de fazê-lo. Como sabes, estou estudando muito. Estou cursando o terceiro ano de inglês, na Cultura lnglesa, em Copacabana. Às terças-feiras, tenho aula das duas às três horas e, às quintas, das duas às quatro. Tenho uma ótima professora e estou fazendo grandes pro­gressos com respeito a esta língua que acho maravi­lhosa. Estudo Português também em Copacabana, com uma de minhas colegas de inglês, que é uma senhora muito instruída. Finalmente, curso a Escola Remington, no mesmo bairro.

Como vês, é bem pouco o tempo que me sobra, isto é, só a parte da manhã, durante a qual fico na loja do Nelson. Não encontro, pois, tempo algum pa­ra despender em cartas. Entretanto, hoje, que é do­mingo, e me encontro em casa estudando para a pro­va de Inglês, que se realizará na próxima quarta-fei­ra, fiz um intervalo nas lições para pegar da pena e dirigir-te algumas palavras.

Nós aqui vamos indo bem, graças a Deus, e por certo também devido às orações de dois seminaristas que não cansam de dirigir preces pelos seus entes queridos.

E vocês? Que nos contam de novo? Já iniciaram as provas de junho? Gostaria que me enviasses as tuas notas bem como as do Waldir. Eu, por minha vez, prometo enviar as minhas após as provas.

Tenho uma notícia triste para comunicar-te. Como já sabias, titio José (irmão do papai) esteve muito doente quando ainda te encontravas aqui. Pois bem, depois disso ele foi sempre piorando, até que foi levado para o hospital, onde faleceu no domingo passado. Felizmente, gozou da assistência de um sa­cerdote que lhe ministrou os últimos sacramentos, tendo ele confessado e comungado. Durante sua per­manência no hospital, fomos várias vezes visitá-lo. Ele sempre perguntava por vocês dois, insistindo muito em querer vê-los. Falava sobretudo no Waldir. Peço-lhes que rezem pelo descanso de sua alma. Lembrem-se de que ele é irmão de nosso pai. Rezem, pois, como se fosse por papai.

Quando estavas aqui, disseste-me uma vez; "quando for mais ou menos julho ou  agosto, vou receber a notícia do noivado de Aída". Mas creio que estavas completamente enganado. Ain­da não apareceu nenhum "príncipe encantado".

Bem, Maurício, se continuar a escrever não ter­minarei de estudar esta lição um tanto difícil. Por isso quero dar-te um abraço afetuoso e enviar-te toda a minha saudade."

 

Tua irmã Aída.

primeira pagina do caderno mariano_otimi

A primeira página do "CADERNO MARIANO" de Aída.

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Aída com sua mãe no Campo de São Cristóvão.

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Aída e seu tio Jorge Jacob Curi.

foto_roberto_e_aida.jpg

Aída com seu irmão Roberto, no Carnaval de 1958, ano da tragédia.

querida_maria_da_glória.jpg

Querida Maria da Glória.

Ofereço-lhe esta fotografia como recordação minha.  Vendo-me assim vestida, certamente pensarão que fui uma "foliãzinha" neste carnaval.  Mas assim não foi.  Só passeei, mas não brinquei.  Estou acompanhada de meu irmão Roberto.  Foi tirada lá na Cinelândia.

Com todo o afeto desta tua amiga saudosa,

Aída Curi,

Em 19-2-58.

livro_de_recordações_de_aida.jpg

Esta é a capa do "Livro de Recordações" de Aída Curi.  Pouco antes de deixar o Educandário Gonçalves de Araújo, Aída pediu às Freiras e às colegas que escrevessem algumas mensagens, para ela guardar como lembrança.

ALGUMAS MENSAGENS CONTIDAS NO "LIVRO DE RECORDAÇÕES":

mensagem da gilmara_miniatura.jpg

Gilmara

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irmã_josefina_02_miniatura.jpg

Irmã Josefina

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