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DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS

INFÂNCIA.

(Do livro "Aída Curi, Ouro Puro em Mina de Trevas", escrito pelo irmão de Aída, Monsenhor Maurício Curi.)

 

Aída veio ao mundo em 15 de dezembro de 1939. Morávamos, então, na rua Santos Dumont, 436, em Belo Horizonte. Aidinha - assim a chama­vam - foi o terceiro dos cinco filhos, e seria a única menina.

Não faltavam a nossos pais, nessa época, recursos para atender às próprias necessidades.

Entretanto, a inopinada morte de nosso pai não lhe deixara tempo suficiente para providenciar uma segurança para nós, nem um mínimo sequer. Deixou-­nos todos pequenos, o mais velho com 11 anos e o caçula com 2 meses e meio.

 

Aída contava apenas cinco anos. Tinha um quê especial por ela. Costuma­va dizer com terno humor:

- Aidinha não deve se casar... Ficará para cuidar de mim!

Disseram-nos que, agonizante, se referiu à ma­mãe e a nós: "Só tenho pena de deixar minha mulher e meus filhos!".

Aquele capítulo estava terminado. Eu tinha qua­tro anos. Eu nunca soube que ressonância tem a palavra "papai"...

Viúva, com 5 filhos pequenos, mamãe deixou Belo Horizonte e foi para o Rio. Viu-se obrigada a traba­lhar por sofrer privações, necessitando mesmo desfa­zer-se do pouco que lhe sobrara, para nos sustentar. Relembra ela que, para saldar dívidas, até a bacia de dar banho foi vendida.

Depois, aconteceu o que já se poderia esperar: algum tempo na casa de uma tia, algum tempo na casa de outra. Apesar da hospitalidade generosa dos parentes, era constrangedor para mamãe chegar nu­ma casa carregada de filhos.

No Rio, encontrou para nós, filhos homens, a Escola Moreira, localizada entre os bairros Rocha e Riachuelo. O estabelecimento não existe mais. Manti­nha a referida escola, naquela época, convênio com a Prefeitura. Por meio desta, mamãe conseguiu internar gratuitamente os meus dois irmãos mais velhos. E diante da situação lastimável em que mamãe se encontrava, a Diretora, penalizada, recebeu-a com os outros dois. Para não se afastar de nós, mamãe aceitou ficar trabalhando na mesma escola, exercendo as funções de enfermeira, costureira e assistente de alunos. A escola, dirigida por D. Alice Santos Moreira e sua filha Flora - por sinal, boníssimas educadoras e cheias de espírito cristão - tratou-nos sempre como a filhos.

Eu e mais dois irmãos seríamos encaminhados, mais tarde,  pelas Diretoras para o Seminário dos Padres Salvato­rianos, em Jundiaí (São Paulo). Meus irmãos não continuaram a carreira.

Faltava agora colégio para Aída; não pudera ficar na Escola Moreira, por ser esta somente para meninos. Tinha seis anos de idade quando entrou para o Educandário Gonçalves de Araújo, situado em São Cristóvão, no Rio. É uma instituição gratuita, destinada a receber crianças órfãs. O Educandário é mantido pela Irmandade da Candelária e está sob a orientação das Irmãs Filhas de São José, congregação de origem espanhola e de espiritualidade segura. Com elas minha irmã passaria 12 anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

PRIMEIROS CLOSES DA INFÂNCIA.

Aída chegou ao colégio levando consigo uma linda bonequinha preta. Imediatamente ficou rodea­da por meninas da sua idade que lhe faziam festas. Perdeu-se feliz no meio da criançada. E nem se lembrou de se despedir de mamãe, que aproveitou o momento para ir embora, soluçando baixinho.

Depois, veio a primeira visita. Mamãe nunca pôde esquecer aquele dia: agarrou-se fortemente ao seu colo, beijando-a repetidas vezes. Anos seguidos, receberia a visita da genitora todos os meses. E quase todos os anos ganharia prêmio de férias em casa. Naqueles tempos, o regime do colégio no que se refere a saídas era rigoroso.

CABELOS COR DE FOGO.


Seus bonitos cabelos ruivos intrigaram as Irmãs. Tingir cabelos não se enquadrava dentro do Regulamento. Conduziram-na a um tanque, lavaram-lhe bem a cabeça. Mas a cor continuou viva. Nada havia de artificial. Dali por diante, as Freiras teriam um modo original de se referir a Aída, apresentando-a como modelo:
- Aída se distingue de vocês em tudo... até nos cabelos !


Lembra-se mamãe de outro fato acontecido poucos anos antes: "Um dia, fui com ela fazer compras nas Lojas Americanas. Aída tinha uns quatro anos. Uma das vendedoras, vendo-a com seus cachinhos louros, perguntou: esta  é a Shirley Temple? Trata- se de  uma criança artista da década de trinta conhecida por seus cabelos louros encaracolados.

PRIMEIRO TRABALHO DE OFICINA.

Da Irmã Maria José de Oliveira:

"Meu primeiro encontro com Aída foi no próprio dia em que, depois de vários anos de ausência, retor­nei ao Educandário Gonçalves de Araújo, onde, tam­bém eu, anos atrás fora educada. Era a despedida da Madre Superiora que embarcava para sua pátria. Chamou-me a atenção aquela pequenina de seis anos, cabelos cor de fogo e com rostinho de anjo. Logo soube quem era e conheci alguns detalhes de sua vida.

Teria Aída seus oito anos de idade quando comecei a lidar com ela diretamente, na oficina de trabalhos a "ponto de cruz", e recordo haver-lhe dado, como primeiro trabalho, uma enorme toalha de mesa, com seus 24 guardanapos, em linho cru. Ela, tão pequenina, quase desaparecia atrás da toa­lha. Trabalhava com gosto, capricho e asseio, e em tempo breve terminou a toalha, recebendo a seguir outros trabalhos que executava de igual modo."

 

 

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aída no colo da sua mãe, dona Jamila_oti

Aída no colo de sua mãe.

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Aída entre os pais e irmãos.

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Aos sete anos, Aída faz sua Primeira Comunhão: 8 de dezembro de 1946.
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